Paulo Moura Gostaria que você explicasse há quanto tempo você se interessa por jazz e mesmo mantendo este interesse consegue levar adiante a sua contribuição na música popular brasileira.
K-Chimbinho Neste caso, o chorinho né?
A linha melodica que eu venho apresentando ao compor tem influência jazzística, mas acho que todo o desenvolvimento da composição vem de muitas fontes.
A minha produção atual, dentro do estilo brasileiro, é uma tentativa de se fazer música internacional. Assim, esta influência que a minha música sofre das melodias internacionais é espontanea e se compatibiliza com os padrões melódicos brasileiros, atualizando-os. A melodia, por exemplo, do meu choro "Velhos Companheiros" está no nível de qualquer melodia de outro país.
Paulo Moura Seu choro "Sonoroso" possui três seções, sendo que entre estas seções existe uma relação tonal que é bastante característica da música brasileira. Mas nestes seus últimos choros, você parece ter abandonado esta estrutura, reduzindo as seções…
K-Chimbinho Sim, reduzi um pouco. Na minha opinião isto faz parte da evolução; menos tempo, menos enfadonho. Hoje eu acho que você pode demonstrar a linha melódica já no início da peça, sendo desnecessário esticar até três seções. Não sei se estou fugindo da regra... mas se eu estiver fugindo eu volto!
Paulo Moura A tendência da música popular de hoje é se extender para além daqueles 2 ou 3 minutos de duração que ficaram mais ou menos estabelecidos nos anos 45, lá pela Segunda Guerra Mundial… porque era o tal negócio do "time is money". Como você veria a possibilidade do choro se extender para além deste tempo de 2, 3 minutos sem necessariamente possuir aquelas 3 seções tradiclonais?
K-Chimbinho Eu acho que nesse caso poderíamos incIuir uma modulação para que o choro se extendesse ou ainda utilizar o improviso que é muito necessário. Isto, de improvisar, não havia antigamente mas hoje, aos poucos vai surgindo.
Paulo Moura Na Bahia, pelo que eu sei através de alguns livros antigos, o choro era, muitas vezes, totalmente improvisado, isto é, era todo feito na hora, não havendo composição prévia. Eu queria saber se lá na região aonde você nasceu, no nordeste, esta também era uma caracteristica do choro antigo.
K-Chimbinho Não. O choro tocado na minha reglão (Rio Grande do Norte) era sempre a demonstração de uma melodia, pura e simples. Não havia improviso . Um ou outro instrumentista mais habilidoso improvisava, mas não era o costume.
Paulo Moura Você é um solista de choro consagrado. Quais são, na sua opinião, as qualidades essenciais de um intérprete?
K-Chimbinho Em primeiro lugar saber definir a melodia. Mas mesmo nesta primeira apresentação da melodia, o solista já deve demonstrar bossa, um pouco de colorido, alguma coisa que não o deixe limitado à inserção melódica do choro. Então, quer dizer, para mim, o melhor solista é este que, ao executar uma melodia que todos já conhecem, consegue fazer de um modo diferente, inovador.
Paulo Moura Esta "bossa" que você fala… muita gente quando se fala em "bossa" pensa logo em "bossa-nova". Será que "bossa", este têrmo brasileiro que é usado para indicar "swingue" quer dizer estilo, criatividade balanço tipicamente national?
K-Chimbinho Não. Eu não acho que seja e nem tenho conhecimento da origem desta palavra. Nas orquestras populares antigas já se falava tocar "com bossa" significando aquele que sabia variar dentro da melodia.
Paulo Moura Vamos falar um pouco sobre os Kchim-temas…
K-Chimbinho Compus a maioria por encomenda, visando a edição de um álbum. Estes temas recebem forte lnfluência do jazz porque eu acho que… tudo é jazzístico! O jazz é música popular que vem sendo desenvolvida pelos americanos, de uma forma que absorve qualquer tipo de estilo como samba, choro, etc. No caso do choro, na sua origem apresenta o ritmo sincopado e que o aproxima naturalmente do jazz.
Paulo Moura E quanto aos Kchim-blues, você compos muitos?
K-Chimbinho Não muito. Tem alguma coisa que esté editada, e ainda uma gravação da música "Just walking" que você Paulo solou.
Entrevista Paulo Moura e Kchimbinho
realizada em abril de 1980 na casa do compositor, Tijuca, RJ
produção para a série radiofônica Chorinhos e Chorões - Rádio MEC
redação e podução Lilian Zaremba