Sobre Paulo Moura
Halina Grynberg  
 

Paulo Moura faz a rentrée de K- Ximbinho em 1976 quando revisita o choro "Eu quero é sossego".

Num LP que é até hoje referência de inovação na conjugação de sopros e percussão em choro orquestral, imprime sua assinatura e marca a liberdade surpreendente de uma proposta musical, assumindo estilos num jeito só seu: "Confusão Urbana , Suburbana e Rural" traz no título o itinerário de uma nova mitologia.

Muitas gravações, inúmeros prêmios nacionais e internacionais depois Paulo Moura torna-se raiz neste K-XIMBLUES

É terra onde semeando tudo dá.

Porque ousa: torna-se o primeiro instrumentista erudito negro -vencendo preconceitos e obstáculos sociais e apoiando-se em suas origens humildes no interior de São Paulo - a obter a 10 colocação em concurso para clarinetista da Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Porque busca: mergulha em sinfonias, óperas, concertos e ballets consolida a sólida aprendizagem erudita em harmonia e contraponto enquanto não deixa de trabalhar em orquestras de rádio sob a regência de Radamés Gnatalli, Lírio Panicalli e Zaccharias.

Porque persevera: exercita a música popular das periferias em gafieiras de subúrbios e na madrugada passeia sua técnica e inventividade em jam sessions, arranjos e experiências com a bossa nova.

Porque não explica, instala o seu gingado, seu jeito de fazer soar o que "Mistura e Manda".

Dessa tessitura de consistência teórica e ousadia interpretativa faz sua trajetória, consolida um estilo musical e define seu virtuosismo inventivo. Paulo Moura torna-se a vigorosa e efervescente síntese que flui até nossos dias, sempre experimentando, inovando, influindo gerações, criando seguidores em interpretações e composições eruditas, jazz, samba, percussão e choro na persistente vertigem que é característica sua até hoje.

Mundo afora expande sua arte em freqüentes apresentações: Grécia, Russia, Argentina, França, Holanda, Inglaterra, Dinamarca, Suíça, Alemanha, Espanha, Estados Unidos, África e Japão, resultando no lançamento de vários discos, e participação em diversos festivais: Berlim, Zurich, Montreux, Olimpia, Gênova, Porto, Vail, Alabama, Tel-Aviv, Toquio, Lincoln Center em New York e Holanda.

E registra seus achados em mais de 25 discos editados no Brasil e no exterior.

Paulo Moura é hoje nome de praça e de festival - em 1997, São José do Rio Preto sua cidade natal no interior de São Paulo, oficializa o Festival Paulo Moura de Música Instrumental, sob sua permanente direção musical.

Mas não descansa ao sol.

E outra vez deixa explodir a imprevisibilidade elaborada de sua leitura instrumental ao lançar este saboroso e "exquisite" (diria, Sebastião Barros) K-XIMBLUES.

Neste comovente CD, tendo como convidado especial Mauricio Eihn gaita, e acompanhado de Nelson Faria na guitarra e Tony Botelho no contrabaixo, Paulo Moura reúne o Blues e o Choro, numa modelagem que faz da expressão percussiva carioca uma travessia entre os universos da musica popular americana e brasileira.

Tal qual K-Ximbinho, entre citaçães, manias e alumbramentos, Paulo Moura impregna as faixas deste CD com referencias que vão dos lamentos nordestinos aos ecos dos pântanos do Mississipi, cultivando sínteses e sintonias.

E, mais uma vez somos reconduzidos ao inusitado.

Ouça, apenas.