Para Gabriel Moura e seu novo Cd solo: encarte
Paulo Moura e Halina Grynberg  
 

“Gabriel, meu sobrinho, está seguindo a tradição musical da família”.
Na minha geração, da qual sou o caçula entre 10 filhos, todos os homens foram iniciados na profissão pelo nosso pai, Pedro Moura, marceneiro, mestre de banda, clarinetista e professor de música em S. José do Rio Preto, interior de S. Paulo. Já ás irmãs, cabia aprender piano. Agora, ele como segunda geração, apresenta uma nova faceta: é um compositor nato. Eu admiro muito o Gabriel pela espontaneidade com que compõe, as melodias bonitas brotando naturalmente. E pela bela voz , com a qual consegue tantos efeitos.

Iniciou-se sozinho cantando nos barzinhos de Lins de Vasconcelos, perto de onde morava. Logo depois um samba enredo seu desfilou no Carnaval da Sapucaí pela Caprichosos de Pilares. Comigo, começou a cantar em meus bailes de gafieira, sempre demonstrando um talento e amadurecimento profissional que muito me surpreendiam.

Em seguida, enquanto eu estava trabalhando no Tuerj ( Teatro da Universidade do Estado do Rio de Janeiro dirigido por Antonio Pedro) numa ação cultural para as classes menos favorecidas, ele lecionava música para crianças. Descortinei, então, a possibilidade de convidá-lo a ir para lá, como aluno. Logo depois foi contratado pelo grupo como profissional e lá se expandiu compondo músicas e fazendo a direção musical para as peças teatrais. Isso lhe rendeu o reconhecimento da crítica, e mais além foi o grande vencedor do 15º Prêmio Shell de Teatro do Rio pela trilha de “Noite do Vidigal” com o Grupo “Nós do Morro”. Uma outra grande realização dele foi a formação do Farofa Carioca. Houve uma interrupção, mas ele deu seu recado no tempo em que lá ficou.

Aos poucos fui observando o seu sonho de fazer um trabalho solo: já estava a meio caminho, os preparativos de orquestração no computador. Mas, achei que não ia pelo caminho contemporâneo adequado. Esperei que ele completasse o trabalho e tentasse negociá-lo. Como Gabriel não estava conseguindo, propus: vamos refazer esse trabalho seu, eu vou te ajudar. O valor maior do trabalho estava na qualidade das composições e da interpretação. Nos concentramos, sobretudo, nas orquestrações e na seleção e seqüência de algumas músicas do repertório. Gostei, realmente, deste nosso convívio musical Gabriel convidou alguns excelentes músicos para acompanhá-lo, entre os quais Nicolas Krassik, no violino, David Feldman no piano, e Bid´´u no trombone...

“Eu Canto Samba”, música de abertura, diz a que Gabriel Moura veio e como gosta de cantar. “Perfume da Nega” é uma boa experiência dele com o estilo Charme. Mini Saia é um sambão muito envolvente, com acompanhamento de metais, e um solo meu de clarineta. Já “Garota do Méier” tem um trabalho orquestral mais elaborado: um piano de cauda substituiu as cordas que não podíamos contratar, e o excelente pianista David Feldman, conferiu uma nobreza e tanto ao trabalho. Fizemos isso também em “Inverno no Rio” e “Chose de Louque”, onde inserimos ecos de Rap.

Há ainda algumas músicas com sotaque nordestino, como “Tem Fila” e “Brasis”. “Lamento do Morro” fecha o Cd muito bem, porque tem algo de cinematográfico, como se Gabriel estivesse cantando entre amigos, lá em cima do morro, olhando para o asfalto e contando sua história.

Há, na verdade, uma história muito bonita na seqüência toda deste disco e que o público vai perceber e receber muito bem.