K-Ximblues
Rob Digital, 2001


01. 06:53  Sempre      
02. 04:18  K-Xintema      
03. 04:53  Auto plágio      
04. 04:57  Catita      
05. 03:13  Sonoroso      
06. 05:47  Sonhando      
07. 09:52  Ternura      
08. 07:12  Just walking      
09. 05:40  K-Ximbodega / Eu quero é sossego      
10. 08:01  Velhos companheiros      


O blues e o choro fazem duo neste comovente CD, novamente gravado ao vivo, em apresentação no Teatro Leblon. Como convidados especiais, Paulo Moura tem Mauricio Einhorn na gaita, Nelson Faria na guitarra e Tony Botelho no contrabaixo, numa modelagem que faz da expressão percussiva carioca uma travessia entre os universos da música popular americana e brasileira. Tal qual K-Ximbinho (nome artístico de Sebastião Barros), maestro da Rádio Nacional que compôs vários e preciosos choros na forma orquestral, Paulo Moura impregna as faixas, entre citações, manias e alumbramentos, com referências que vão dos lamentos nordestinos aos ecos dos pântanos do Mississipi, cultivando sínteses e sintonias. O disco recebe, em 2003, o prêmio Rival Petrobras na categoria Instrumental e é indicado ao Prêmio Tim de Música Brasileira. K-Ximblues
Rob Digital

Intérpretes
Paulo Moura: clarineta e sax alto
Mauricio Einhorn: gaita
Nelson Faria: violão
Tony Botelho: contrabaixo

Direção musical e arranjos: Paulo Moura
Direção conceitual: Halina Grynberg
Produção executiva: Claudia Calmanowitz

Gravado ao vivo no Teatro Leblon do Rio de Janeiro
Série Grandes Encontros: em 17 e 18 de maio de 1999
Série idealizada e dirigida por Marco Pereira com produção de Maria Angela Menezes - Tema Eventos Culturais.

Técnico de gravação: Sergio Lima Neto
Edição e mixagem: Claudio Valdetaro e Roberto Carvalho
Masterização: Rob Digital

Foto de capa: Zeka Araújo
Foto de Paulo Moura: Toninho Cury
Foto de K-Ximbinho: Carlos Mesquita / Agência JB
Design Gráfico: Helena de Barros
Salve K-Ximbinho


Estamos perante o inusitado do gênio.

A dupla personalidade musical de um artista que transita entre dois destinos: o que as circunstâncias lhe propuseram e o outro que ele constrói por conta própria. A cada um seu nome e localidade e enredo.

Nascido Sebastião Barros num 20 de janeiro de 1917 em Taipu, Rio Grande do Norte, torna-se K-Ximbinho, neste Rio outro, o de seu padroeiro, e que escolhe para si junto com o apelido que definiria seus anseios mais profundos. De "cachimbo", designação brasileira afetiva para o saxofone nos áureos anos de jazz do século vinte, décadas de 30 e 40, retira a marca que deixou grafada em paródias da língua inglesa, firmando-a obsessivamente em suas composições: K-Ximbodega, K-Ximblues, K-Ximtema e no K de GilKa para sua filha. Diria, em deboche: - E "Auto-plágio", outra de suas composições.

Parecia confirmar o registro de direito autoral de sua ousadia: mudar o rumo das coisas, inserir o imprevisível, reunir o choro tão carioca ao jazz tão americano. Nem que fosse preciso transformar o formato da escrita do choro como transfigurou a escrita de seu apelido. Para K-Ximbinho o choro, a seu gosto, compõe-se em 2 partes ao invés das tradicionais três partes com que foi consagrado. A terceira parte de suas composições choro pertenceria à liberdade da improvisação: nelas contaria sua história, inventaria novos desenhos, fraseados e rítmicas ou desatinos.

Poderia por exemplo deixar seu paletó dependurado sobre as costas de sua cadeira de músico da Orquestra Tabajara - e enquanto o maestro Severino Araújo repassava um trecho no ensaio para o programa que entraria ao vivo logo em seguida na Radio Tupi - seguir rumo ao ignorado à bordo de uma garrafa de whisky ou cachaça. Seria encontrado dias depois, ainda vestido com os restos do terno na beira-mar de uma praia solitária da Região dos Lagos. Assim conta a lenda.

Começou a fazer música com a requinta (e talvez daí a sua mania de diminutivos: a requinta é uma pequena clarineta) na Associação dos Escoteiros do Alecrim de onde segue para a PanJazz como estudante secundário e descobre o saxofone alto na banda do serviço militar.

Estréia profissionalmente aos 1 8 anos com a Orquestra Tabajara (a mesma de Severino Araújo e de seu paletó abandonado), em sua primeira fase ainda no Nordeste brasileiro, onde permaneceria até 1942.

E muda-se para a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro ao encontro de suas contradições. Toca nas orquestras de Fon-Fon e Napoleão Tavares em bailes de formatura e debutantes, enquanto inspira-se nas formações jazzísticas da West Coast e nos arranjos de Chico Hamilton e Gunter Schuller para apresentar-se nos Concertos de Jazz, década de 50, onde liderava seus arranjos improvisados nos múltiplos grupos com que tentava constituir sua própria orquestra.

Não conseguiu, mas não desistiu. Começa a estudar harmonia e contraponto com o músico Hans Joachim Koellreutter (professor ainda de Tom Jobim, Moacyr Santos e Paulo Moura entre outros) durante o dia e à noite nas boates Night and Day e Beguin ou no Avenida Dancing continuaria improvisando horas inteiras ao som de conversas de fundo, tilintar de copos, mix de coquetéis, risadas, entradas e saídas que não abalavam o "Sonhando" e o "Sonoroso" (estes, por acaso, ainda em três partes!).

Tão conhecido este último que até as lavadeiras o cantavam nos tanques de subúrbio.

Assim continua a lenda.

E porque não propor um enigma?

Se seu ídolo era Paschoal de Barros - um gênio do saxofone antes dele - teria também por isso mudado de nome para o apelido mais jocoso, íntimo e infantil, como quem sabe e espera a cerimonia da passagem da batuta que viria com a morte do seu inspirador?

O Rio que continua de janeiro para todos terminou para ele em 26 de junho de 1980. Nem Sebastião, nem K-Ximbinho: esvaneceu-se no anonimato.

Restaram obras belíssimas, conhecidas de poucos, embora "Manda Brasa" tenha ganho o primeiro lugar no concurso de choros da TV Bandeirantes em 1978, pouco antes do fim de sua vida.

Aqui se encerra a lenda: a batuta que recebeu de Paschoal de Barros não a passou para ninguém.



Salve Paulo Moura


Paulo Moura faz a rentrée de K-Ximbinho em 1976 quando revisita o choro "Eu quero é sossego".

Num LP que é até hoje referência de inovação na conjugação de sopros e percussão em choro orquestral, imprime sua assinatura e marca a liberdade surpreendente de uma proposta musical, assumindo estilos num jeito só seu: "Confusão Urbana. Suburbana e Rural" traz no título o itinerário de uma nova mitologia.

Muitas gravações, inúmeros prêmios nacionais e internacionais depois, Paulo Moura torna-se raiz neste K-XIMBLUES.

É terra onde semeando tudo dá.

Porque ousa: torna-se o primeiro instrumentista erudito negro - vencendo preconceitos e obstáculos sociais e apoiando-se em suas origens humildes no interior de São Paulo - a obter a 1ª colocação em concurso para clarinetista da Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Porque busca: mergulha em sinfonias, óperas, concertos e ballets, consolida a sólida aprendizagem erudita em harmonia e contraponto enquanto não deixa de trabalhar em orquestras de rádio sob a regência de Radamés Gnatalli, Lírio Panicaili e Zaccharias.

Porque persevera: exercita a música popular das periferias em gafieiras de subúrbios e na madrugada passeia sua técnica e inventividade em jam sessions, arranjos e experiências com a bossa nova.

Porque não explica, instala o seu gingado, seu jeito de fazer soar o que "Mistura e Manda".

Dessa tessitura de consistência teórica e ousadia interpretativa faz sua trajetória, consolida um estilo musical e define seu virtuosismo inventivo. Paulo Moura torna-se a vigorosa e efervescente síntese que flui até nossos dias, sempre experimentando, inovando, influindo gerações, criando seguidores em interpretações e composições eruditas, jazz, samba, percussão e choro na persistente vertigem que é característica sua até hoje.

Mundo afora expande sua arte em freqüentes apresentações: Grécia, Russia, Argentina, França, Holanda, Inglaterra, Dinamarca, Suíça, Alemanha, Espanha, Estados Unidos, África e Japão, resultando no lançamento de vários discos, e participação em diversos festivais: Berlim, Zurich, Montreux, Olimpia, Gênova, Porto, Vail, Alabama, Tel-Aviv, Toquio, Lincoln Center em New York e Holanda.

E registra seus achados em mais de 25 discos editados no Brasil e no exterior.

Paulo Moura é hoje nome de praça e de festival - em 1997. São José do Rio Preto, sua cidade natal no interior de São Paulo, oficializa o Festival Paulo Moura de Música Instrumental, sob sua permanente direção musical.

Mas não descansa ao sol.

E outra vez deixa explodir a imprevisibilidade de sua leitura instrumental, ao lançar este saboroso e "exquisite" (diria, Sebastião Barros) K-XlMBLUES.



Neste comovente CD...
Halina Grynberg

Neste comovente CD, tendo como convidado especial Mauricio Einhorn na gaita, acompanhado de Nelson Faria na guitarra e Tony Botelho no contrabaixo, Paulo Moura reúne o Blues e o Choro, numa modelagem que faz da expressão percussiva carioca uma travessia entre os universos da música popular americana e brasileira.

Tal qual K-Ximbinho. entre citações, manias e alumbramentos. Paulo Moura impregna as faixas deste CD com referências que vão dos lamentos nordestinos aos ecos dos pântanos do Mississipi, cultivando sínteses e sintonias.

E, mais uma vez somos reconduzidos ao inusitado.

Ouça, apenas.

em 15 de junho de 2002




Paulo Moura mergulha...


Paulo Moura mergulha no universo musical do insólito e talentoso K-Ximbinho, saxofonista e compositor que ousou e encantou ao buscar a fusão entre o choro e o jazz.

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