Pixinguinha - Paulo Moura e Os Batutas
Rob Digital, 1998


01. 03:48  Ainda me recordo      
02. 02:27  Segura ele      
03. 02:49  Proezas de Solon      
04. 03:02  Cochichando      
05. 03:48  Ingênuo      
06. 03:56  Lamento      
07. 04:46  Carinhoso      
08. 05:21  Mistura e manda      
09. 03:26  Batuque na cozinha      
10. 02:35  Os oito batutas      
11. 03:31  Pelo telefone      
12. 04:08  Rosa      
13. 03:41  Naquele tempo      
14. 03:16  Vou vivendo      
15. 02:59  1 X 0      
16. 10:11  Urubu malandro      


Resultado de um espetáculo único realizado no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, a gravação Pixinguinha de Paulo Moura e Os Batutas é uma recriação inspirada do repertório clássico do gênio do choro. Com a formação de um octeto, nos moldes do grupo Oito Batutas de Pixinguinha, Paulo Moura extasia plateia evocando toda a vitalidade e beleza do gênero, ao qual imprime assinatura própria. Para a missão, a banda está à altura: Joel do Nascimento no bandolim, Zé da Velha no trombone, Jorge Simas no violão de 7 cordas, Márcio Almeida no cavaquinho, Jorginho no pandeiro e Marçal e Jovi dividindo a percussão. Um disco belo e carinhoso. O disco ganhou, em 1998, o Prêmio Sharp na categoria Instrumental de Melhor Disco e Melhor Grupo e foi lançado no mercado internacional, pelo selo Blue Jackel, com o nome Pixinguinha. Em 2000, ganhou o I Grammy Latino como Melhor Álbum de Música de Raiz. Pixinguinha - Paulo Moura e Os Batutas
Rob Digital

Gravado ao vivo no SESC Barra Mansa em 1997

Vencedor do Prêmio Sharp de Melhor Grupo de Música Instrumental de 1997, e de Melhor Produtor de Música Instrumental de 1977 para Paulo Moura

Permaneceu na lista dos 10 melhores CDs indicados pela Barnes & Nobles de junho a dezembro em Nova York


Sopros e arranjos: Paulo Moura
Violão: Jorge Simas
Cavaquinho: Marcio
Pandeiro: Jorginho
Percussão: Jovi
Percussão: Marçalzinho
Trombone: Zê do Velha
Bandolim: Joel do Nascimento

Produção Executiva do Projeto: Maria Angela Menezes, Tema Eventos Culturais Gravação ao vivo em DAT: Doudou

Edição e Masterização: Roberto de Carvalho e Eduardo Lacava / Rob Digital Produção Fonográfica: Claudia Calmanowitz

Design Gráfico: Helena de Barros
Fotos de Paulo Moura: Luís Garrido

Fotos de Pixinguinha e Os Batutas: gentilmente cedidas pelo MIS - RJ
Para chorar de tanta beleza
Ricardo Cravo Albin

Há certos discos que tenho dificuldade de tirar do aparelho de som, tal a sedução que provocam aos ouvidos já tão cansados de enganações e mesmices. Paulo Moura e Os Batutas é um.

Gravado ao vivo no Teatro Carlos Gomes, este disco é um acúmulo de acertos. O primeiro é o repertório, quase todo dedicado às composições de Pixinguinha. Os quatro números não-assinados pelo mestre, cujos 100 anos o CD também comemora, tem toda a atmosfera pixinguiniana. Pelo Telefone (Donga), Batuque na Cozinha (João da Bahiana), Mistura e Manda (Nelson Ferreira) e, especialmente, o Urubu Malandro (Braguinha e Louro) - clássico de qualquer repertório do melhor choro carioca - bem que poderiam ser da autoria de Pixinguinha.

O segundo acerto é o conjunto liderado pelo fôlego e capacidade de Paulo Moura, que não fica a dever a qualquer grande músico mundial. O maestro - inventivo e provocador a cada novo trabalho - também sabe farejar como poucos os melhores músicos de choro, como Zé da Velha e Joel Nascimento, dois dos integrantes do primoroso octeto.

O maior de todos os acertos deste CD, contudo, é a insuperável trama provocada pelos arranjos das 16 músicas e a sonoridade do conjunto, em que cada solista tem sua hora e vez.

Para citar apenas uma música: a introdução de Ingênuo, o mais lindo choro de Mestre Pixinga - tocada à capela pelo sopro macio de Paulo Moura - logo acompanhado pelo violão de Jorge Simas – é de chorar de tanta beleza. Ainda bem que CD não gasta de tanto tocar. Porque se fosse LP, o meu exemplar já estaria inutilizado.



Homenagem deliciosa
Pedro Só - Showbizz

Gravado ao vivo no ano passado e lançado agora para comemorar o centenário de Pixinguinha (transcorrido em 23 de abril), este delicioso álbum traz Paulo Moura de volta ao clarinete, instrumento que soprou primeiro, ainda menino, ensinado pelo pai. O repertório maravilhoso: "Ingênuo", "Carinhoso", "Um A Zero", "Segura Ele", "Urubu Malandro", "Pelo Telefone", "Rosa" ... E a reconstituição do regional que encantou Paris e Buenos Aires no começo dos anos 20 honra a aura legendária. Jorge Simas (violão), Marcio (cavaquinho), Jorginho (pandeiro), Jovi e Marçal (percussão), Zé da Velha (trombone) e Joel do Nascimento são, como bem apresenta Paulo, "os batutas do nosso tempo ".




Paulo Moura & Os Batutas
A. S. / Revista JAM - maio 97

Desde os dois discos gravados ao vivo por Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim e Zimbo Trio no MIS do Rio não se tinha um disco ao vivo de MPB-pré-bossa tão emocionante, autêntico, exuberante. Ninguém menos que o maior clarinetista brasileiro, Paulo Moura, para registrar os choros, polcas e valsas do maior compositor, flautista e arranjador, Pixinguinha, no ano em que é celebrado seu centenário. Como se não bastasse, o regional Os Oito Batutas (cujo nome é inspirado num dos primeiros conjuntos de Pixinguinha) tem o bandolinista Joel Nascimento, discípulo de Jacob. A interação de Joel e Paulo Moura é alegre, festiva, leve.

Até a quinta faixa, a seresta "Ingênuo", o CD é puro choro ("Ainda Me Recordo", "Segura Ele", "Proezas de Solon" e "Cochichando"). Volta ao gênero com o clássico "Lamento" e chega ao final das 16 faixas quase sem escorregões. Músicas geniais como "Vou Vivendo" (que inspirou o nome do tradicional bar paulistano de MPB) e "Rosa" estão ao lado de ternas inesquecíveis de outros autores como "Urubu Malandro" (de João de Barro e Louro, cuja versão definitiva é de Pixinguinha) e "Pelo Telefone" (de Donga e Mário de Almeida, o primeiro samba gravado).

Se o ouvinte tiver vontade de bater caixinha de fósforo, cantar em "Carinhoso" ou até arriscar uns passinhos, deve ficar à vontade. A banda, pelo menos, parece tão relaxada que até o bandolim de Joel soa desafinado em algumas passagens.



Choro dos diálogos fantásticos
M. A. - Jornal do Brasil

Paulo Moura e chorões ao pé de mestre Pixinguinha

Além de belíssima homenagem a Pixinguinha no seu centenário - mais uma, felizmente, a quem é credor de todas - esse concerto gravado ao vivo é uma prova do acerto da decisão de Paulo Moura de voltar a tocar clarinete. Foi por esse instnimento - de tantas embocaduras eméritas no Brasil: de Luís Americano a Severino Araújo, de Abel Ferreira a K-Ximbinho, para citar o mínimo - que Paulo começou em casa, em São José do Rio Preto (SP), com o pai, clarinetista e chefe de banda.

Com o clarinete, Paulo chegou à Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal e a vencer o desafio de gravar - como Edu da Gaita - o quase inalcançável Moto perpétuo,de Paganini. Na febre do bebop. de Charlie Parker e de Ornette Coleman, deixou-o de lado. entregando-se ao saxofone. A volta coincidiu, como ele disse numa entrevista há quase 10 anos, com a necessidade que sentiu "de me impregnar de música brasileira". E com essa música, naquela que é talvez a sua melhor vertente, que Paulo Moura e seus companheiros, os novos batutas do espetáculo de agosto do ano passado no Teatro Carlos Gomes, lavam agora a alma dos discófilos.

Paulo tocou com Pixinguinha e entre seus acompanhantes pelo menos mais dois provavelmente também tocaram: o virtuoso pandeirista Jorginho e o trombonista Zé da Velha, cujo apelido é uma redução de Zé da Velha Guarda. Paulo revela que com o mestre aprendeu "esta maneira de tocar em grupo que dialoga com o contracanto". E esse diálogo fantástico que pulsa o CD inteiro. Ora Paulo Moura expõe o tema, adiante quem o faz é Zé da Velha, carregado de sensibilidade, e mais além a vez é do magnifico bandolim de Joel Nascimento. Onde brilha mais a extraordinana junção de talentos? Difícil dizer. As peças são todas obras-primas. Muitas já tem registros gravados pelos solistas mais exponenciais. E ainda assim é possível ouvi-Ias com o agrado de uma primeira audição.

É assim, por exemplo, com Ingênuo, aliás o choro preferido de Pixinguinha. A abordagem desse clássico respeita escrupulosamente sua integridade, mas soa como uma revelação. É a palavra: todo o disco é uma revelação, embora já se saiba de tudo: do valor dos autores, das músicas e dos instrurnentitas. (M.A.)



PIXINGUINHA - Paulo Moura & Os Batutas


Pixinguintia é sempre bem vindo, seja cantado, instrumental, acústico ou com banda, desde que venha com dignidade. Coube ao digníssirno Paulo Moura, acompanhado de Os Batutas (Jorge Simas, Márcio, Jorginho do Pandeiro, Jovi, Marçal, Zé da Velha e Joel do Nascimento), relembrar sucessos do flautista fundador do grupo num show realizado no ano passado no Teatro Carlos Gomes, Rio. Pixinguinha, o álbum, foi gravado ao vivo em agosto de 1996 no próprio teatro. O repertório mostra composições do homenageado - dentre elas "Carinhoso", "Rosa", "Naquele Tempo" e "Ainda Recordo" - em versão instrumental, além de canções que se eternizaram no sopro divino de Pixinguinha graças as improvisações que o músico imprimiu ao solo de flauta. Caso, por exemplo, de "Urubu Malandro". Mais do que uma prova, o disco é um sinal de alerta de que o choro - ritmo que voltou a ser celebrado ultimamente - jamais deve ser esquecido. Não apenas por sua beleza e histórico, mas, especialmente, pela genialidade de Pixinguinha na criação das mais belas canções do gênero.



Recorded Live at the Carlos Gomes Theatre
Al Pryor

Similarly, Alfredo da Rocha Viana Filho (1879 – 1973) known the world over as Pixinguinha, was a superb flutist, saxophonist, composer and arranger. He is considered by many to be the greatest choro musician of all time in addition to being the author of some of the most popular choros. But Pixinguinha is probably more famous among the cognoscenti for his contributions to development of counterpoint in Brasilian popular music, a gift which served him well when he turned from working principally as a performer to working as a conductor, arranger and orchestrator. Like his counterpart in North America – Armstrong, Pixinguinha’s music reached it’s clímax in the 1920’s and the 1930’s. As Armstrong was reinventing the role of the soloist as improviser in popular music, Pixinguinha was creating improvised counterpoint as support for the melodic theme in choro.

“Choro has a simple rondo structure in three sections, with a tonal relationshop among them. Each section has sixteen bars. If the first part is in a major key; the second part is in a related minor key. This second part, after being repeated, returns to the first sextion in the major key again-same tonality. The third part is in a subdominant key related to the first section. Finally the first section is reintroduced. Or AA BB A CC. Alternately if the first section is minor, the second section will be major and so on; following the same logic as above. Of course there are a number of exceptions to this basic Idea and form, innovations which have occurred over the decades” – Paulo Moura.



Pixinguinha - Paulo Moura & Os Batutas
Roberto Cezar de Andrade

Segundo o que já vem se tornando uma tradição, o Brascan Brasil tem o prazer de oferecer a seus associados, clientes e amigos, um outro CD com músicas brasileiras, tocadas por brasileiros. Nossa escolha, este ano, recaiu sobre um clássico da música popular: Pixinguinha, Alfredo da Rocha Viana Filho (1897-1973), um carioca cujas composições para a flauta e outros instrumentos – e magníficas improvisações – tornaram-no o mais alto representante do choro, reunião dos músicos e estilo musical que marcou a boêmia carioca de forma que só pode ser comparada à do jazz nos Estados Unidos.
Em 1997 será comemorado o centenário de Pixinguinha e esperamos que este disco seja uma introdução digna das muitas homenagens que o compositor certamente receberá no ano que se aproxima.



Do choro ao jazz
Al Pryor (livre adaptação de Halina Grynberg)

O século XX fez das Américas, de Norte ao Sul, o celeiro do que há de melhor na música popular. E não apenas no contexto vocal; o jazz americano e o choro brasileiro são formas rítmicas, melódicas e harmônicas de qualidade única em sua pura expressão musical.

Além do seu caráter essencialmente instrumental, as tradições do choro e do jazz compartilham outros elementos em comum. Desenvolvem-se a partir de pequenas formações instrumentais e destacam uma forma de improvisação onde as figuras rítmicas sustentam e destacam sempre um solista improvisador. E, significativamente, possuem as mesmas origens africanas como a música cubana e o tango argentino em seu nascedouro. Não é mera casualidade - históricamente estas raízes da cultura africana emanaram dos portos onde se explorava o trafico negreiro.

Provavelmente o choro é algumas décadas mais antigo que o jazz, mas tanto um quanto o outro tornaram-se populares graças ao seus grandes solistas, cujas carreiras ganharam notoriedade na virada do século XIX para o XX.

Nos Estados Unidos da América, o gênio de Louis Armstrong (1900-1971), com suas gravações Hot Five e Hot Seven, entre 1925 e 1928, foi imediatamente reconhecido por músicos e apreciadores como tendo criado, ampliado e codificado os elementos que viriam a fazer parte da linguagem desta nova música "quente" chamada jazz. Armstrong extraia melodias inteiramente novas de cada uma de sua improvisações. Ao invés de parafrasear simplesmente o tema, criava frases singulares de solo integradas a um conceito melódico extremamente amplo, onde a exploração dramática - sublinhando emoções íntimas e pessoais - era sua marca mais forte, além do poderoso e inigualável balanço suingado. Por isso tem seu lugar garantido entre aqueles artistas que possuindo grande técnica, criam inovações que mudam para sempre a maneira como a música é composta e ouvida.

Alfredo da Rocha Vianna Filho (1897-1973) conhecido universalmente como Pixinguinha, foi como Louis Armostrong um músico magistral, flautista, saxofonista, compositor e arranjador. Considerado como o maior músico de choro de todos os tempos, é autor de alguns dos choros mais sofisticados da tradição instrumental brasileira.

Entre os iniciados é louvado sobretudo por sua contribuição ao desenvolvimento do contraponto na música popular, talento que deixou registrado nos seus arranjos e orquestrações quando deixou de ser interprete para empunhar a batuta de maestro.

Tal qual seu equivalente norte-americano - Armstrong - a música de Pixinguinha atingiu seu climax nos anos 20 e 30: o americano reinventando o papel do solista como improvisador na música popular; o brasileiro fazendo do contraponto improvisado o apoio ao tema melódico principal do choro. É Paulo Moura quem nos lembra:

"O Choro tem uma estrutura simples de rondó em três partes, com uma relação tonal entre elas. Cada parte tem dezesseis compassos. Se a primeira parte é em tom maior, a segunda será no tom relativo menor. Depois de repetir esta segunda parte, retorna-se a primeiro no mesmo tom maior. A terceira parte é em tom subdominante relativo da primeiro. Finalmente a primeira parte é reintroduzida. Ou seja, AA BB A CC. Alternativamente se a primeira parte for menor, o segunda será maior e assim por diante seguindo o mesma lógica. Naturalmente há exceções a esta idéia e forma básicas, inovações que ocorreram ao longo dos décadas"

Antes dos Hot Five e Hot Seven de Armstrong, Pixinguinha já havia formado seu octeto Os Batutas. A banda foi inspirada em um grupo de músicos conhecidos como Grupo do Caxangá, que tocava durante o carnaval nas ruas do centro do Rio antigo.

Pixinguinha que havia tocado flauta naquela banda, foi estimulado pelo gerente do Cinema Palais a formar um grupo menor, com repertório e trajes iguais aos do Grupo do Caxangá. Os integrantes originais dos Batutas, além de Pixinguinha, foram Donga no violão, China, irmão de Pixinguinha, no violão e voz, Nelson Alves no cavaquinho, Raul Palmieri no violão, Luis Pinto da Silva no bandolim e reco-reco, Jacó Palmieri no pandeiro e José Alves de Lima no bandolim e chocalho.

Devido a suas realizações na música, tanto Armstrong como Pixinguinha ganharam status de embaixadores culturais de seus respectivos países, mesmo sendo negros e vivendo numa época onde a discriminação racial delimitava fortemente as relações sociais. Armstrong, por exemplo, chegou a Londres em 1932, e um crítico britânico distorceu seu apelido Satchelmounth para "Satchmo".

Em 1922 Os Batutas viajaram para a Europa onde se tornaram a sensação do continente. Como Pixinguinha, todos os membros de Os Batutas eram negros originários de bairros operários do Rio. A estadia de Pixinguinha em Paris fez parte da Semana de Arte Moderna, um evento cultural que ajudou a definir a relação do Brasil com a cultura francesa. E talvez por isso este fato não deixou de causar enorme consternação entre setores da elite branca do Rio de Janeiro.

Depois da temporada européia a banda modificou-se algumas vezes, mas foi reagrupada como octeto para uma turnê a Argentina com cinco de seus componentes originais mais J.Tomás na bateria, Josué de Barros no violão e J.Ribas no piano. Em Buenos Aires a banda fez dez gravações de uma seleção de vinte músicas - entre elas "Urubu Malandro", uma das mais famosas de Pixinguinha por causa de sua extraordinária improvisação na flauta. Os Batutas prosseguiriam com várias mudanças de pessoal até o final dos anos 20.

Pixinguinha não apenas cativou plateias com sua técnica de flauta e saxofone em rodas de choro. Mas, de fato, foi ele quem criou um estilo de tocar o sax tenor na música brasileira tocando o instrumento em cabarés, cinemas e bailes de carnaval. Antes dele, a orquestração de música popular brasileira era relativamente desconhecida. Ela foi enriquecida a partir de suas partituras, com a inclusão de saxofones, trumpetes, bombardino, piccolo, caixa e tuba.

Seu enorme talento acabou por leva-lo ao posto de arranjador contratado do staff da gravadora Colúmbia nos anos 20. E já nos anos 30 estava muito bem estabelecido nos florescentes meios do rádio e da indústria fonográfica.

Mas, apesar disto Pixinguinha ainda continuaria a dirigir bandas e orquestras tais como Guarda Velha, Diabos do Céu e outras. Durante sua vida escreveu cerca de 600 composições.

No dia 17 de fevereiro de 1973 enquanto aguardava na Igreja N. S. da Paz em Ipanema onde seria padrinho do filho de um amigo, Pixinguinha sofreu um colapso e faleceu. Diz a lenda que uma chuva torrencial caiu sobre o desfile da Banda de Ipanema, ao qual Pixinguinha planejava ir. Para seus amigos que sempre o viram como um santo, a maneira como morreu seria apenas uma confirmação disto.

Durante muitos anos ele foi homenageado com o Projeto Pixinguinha, patrocinado pelo estado, que levava músicos as mais diversas regiões do país.

Paulo Moura é o único instrumentista vivo da música popular brasiliera a ter um festival criado em sua homenagem: Festival Internacional de Música Paulo Moura, em sua terra natal, São José do Rio Preto, São Paulo. Mas, não só por isso é a pessoa ideal para dirigir uma recriação da música do grande Pixinguinha. Também porque sendo o intérprete contemporâneo de choro mais importante do Brasil, Paulo Moura é um artista eclético e ao mesmo tempo de sólida formação erudita.

Aos 19 anos, executando o Concertino de Weber, entra como primeiro clarinetista negro na Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro onde por 20 anos solidifica e expande sua formação clássica, enquanto se exercita como instrumentista popular, tocando em diversos grupos e liderando várias bandas com repertórios que incluem bossa-nova, samba de gafieira e jazz.

Fez sua estréia nos Estados Unidos no Carnegie Hall em 1962. Tal qual seu mentor musical Pixinguinha, Paulo Moura é hoje em dia um renomado instrumentista, arranjador, orquestrador, compositor e regente de formações sinfônicas. Entre suas contribuições mais significativas a música intrumental brasileira está a liderança no renascimento e na continuação do movimento popular do choro e o papel que exerceu como diretor do Museu da Imagem e do Som, e membro dos Conselhos Estadual e Federal de Cultura, entre 1996 e 1998.

Nos muitos festivais nacionais e internacionais ou concertos de que participa, Paulo Moura permanece fiel a suas raízes brasileira e negras. Como, em 1988 quando regeu a Orquestra Sinfônica de Brasília executando um de seus trabalhos, uma peça para percussão e orquestra, celebrando o centenário da abolição da escravatura no Brasil.

Ou quando, em 1999, nos brinda com a Folia Nordestina para Orquestra Sinfônica, pesquizando as raízes rítmicas da cultura nordestina, para a inauguração do Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza.

Seu domínio tanto da clarineta como do saxofone tornou-se lendário. A discografia de Paulo Moura compreende mais de trinta títulos sempre disputados pelos apreciadores e fans de música brasileira e instrumental mundo afora.

Esta gravação "Pixinguinha" de Paulo Moura e Os Batutas é uma recriação do repertório de Pixinguinha e os Oito Batutas. A banda tem Joel do Nascimento no bandolim, o trombone de Zé da Velha, violão de 7 cordas de Jorge Simas, Márcio no cavaquinho, o mundialmente famoso Jorginho no pandeiro, e fechando a seção de ritmos, os percussionistas Marçal e Jovi.

Com este octeto Paulo Moura demonstra a vitalidade, a complexidade, a beleza e a eternidade do choro de Pixinguinha. E pode mais uma vez ser louvado pela genialidade com que através de seus arranjos e interpretações continua criando laços arrebatadores e belos entre a riquíssima música popular instrumental brasileira e o complexo universo jazzistico.

Livre adaptação de Halina Grynberg, sobre texto de apresentação de Al Pryor, para o CD "Pixinguinha" lançado pela Blue Jackel nos Estados Unidos em maio de 1998.

Tradução de Roberto de Carvalho







Pixinguinha - Paulo Moura & Os Batutas


Coube ao critico e historiador da música popular brasileira, Ari Vasconcelos, a melhor definição do grande personagem deste disco: “Se você tem 15 volumes para falar de toda a música popular brasileira, fique certo que é pouco. Mas se dispõe apenas o espaço de uma palavra, nem tudo está perdido; escreva depressa: ‘Pixinguinha’.
De fato, o carioca Alfredo da Rocha Viana Filho (1897-1973), o Pixinguinha, desempenha um muito especial na música popular brasileira. Sua obra de compositor coloca-o como o melhor autor de choros de todos os tempos: como flautista, destaca-se sobretudo pela sua genial capacidade de improvisador; como saxofonista, acrescentou à nossa música um tipo de contraponto que, segundo o compositor e professor da Escola Nacional de Música, Brasílio Itiberê, “é um dos elementos mais complexos e de maiores conseqüências estéticas que existem na música popular brasileira”. Foi Pixinguinha, também, o maestro que introduziu nas orquestrações uma linguagem absolutamente brasileira.
Foi músico de cabaré, de cinema, de bailes carnavalescos e, principalmente, das rodas de choro, onde, com o seu saxofone, extasiava o público com o seu contraponto que, citando mais uma vez Brasílio Itiberê, “ajusta-se à melodia principal não como estranho, como acontece a muito compositor de renome, mas como voz autônoma, de altíssima beleza”.
Trabalho muitos anos em rádio e fez a música do filme Sol sobre a lama, de Alex Viany, quando algumas de suas melodias ganharam letra de Vinícius de Moraes. “Se eu não fosse Vinicius de Moraes, gostaria de ser Pixinguinha”, confessaria o poeta, destacando outros aspectos da personalidade do nosso personagem, como o caráter e a doçura. Vinicius era um dos admiradores que o tinham como um santo “a propósito, Pixinguinha morreu no interior de uma igreja de Ipanema).
O certo é que sua música não morrerá nunca.



Os Oito Batutas


No princípio de 1914, 1915, era o Grupo do Caxangá, uma turma de músicos que, duranto o carnaval, desfilava animadamente pelas ruas do centro do Rio de Janeiro, sob a liderança do compositor e violonista Jaó Pernambuco (João Teixeira Guimarães – 1883-1947). Pixinguinha, flautista do Grupo, foi convidado pelo gerente do Cinema Palais para organizar um conjunto menor do que o Grupo do Caxangá, mas com as mesmas característica, tanto no repertório quanto no traja de estilo sertanejo.
Assim, em 1919, nasceu o conjunto Os Oito Batutas, cujos integrantes eram todos participantes do Grupo do Caxangá: Pixinguinha (flauta), Donga (violão), China, irmão de Pixinguinha (violão e voz), Nélson Alves (cavaquinho), Raul Palmieri (violão), Luís Pinto da Silva (bandola e reco-reco), Jacó Palmieri (pandeiro) e José Alves Lima (bandolim e ganzá). As apresentações do grupo na sala de espera do Cinema Palais alcançaram tanto sucesso que, no início de 1922, foram convidados para se apresentar em Paris, no Cabaré Sherazade, e lá permaneceram por oito meses. Nesta viagem, o conjunto passou a chamar-se Os Batutas, porque viajaram apenas sete dos seus integrantes.
Depois da temporada em Paris, o grupo variou algumas vezes a sua composição e o número de componentes. Numa longa excursão a diversas cidades argentinas, a partir de fins de 1922, voltou a contar com oito integrantes. Da formação inicial permaneceram Pixinguinha, Donga, China, José Alves de Lima e Nélson Alves. Os três outros foram substituídos por J. Tomás (bateria), Josué de Barros (violão) e J. Ribas (piano). Em Buenos Aires, Os Batutas gravaram dez discos (vinte músicas), entre as quais Urubu malandro, uma das gravações mais famosas de Pixinguinha pelo show de improvisações que criou no solo de flauta. Na volta ao Brasil, novamente o grupo foi modificado, até que, no final da década de 20, quando Pixinguinha passou a atuar como arranjador de discos, não se falou mais dele. As orquestras e os conjuntos liderados por ele ganharam novos nomes, como Guarda Velha, Velha Guarda, Diabos do Céu etc.



Os Batutas do Fim do Século


As gravações feitas pelos Oito Batutas na Argentina, pecam, infelizmente, pela péssima qualidade do som. Eram tempos do sistema mecânico de gravações, ou seja, a eletricidade ainda não havia sido admitida nos estúdios. Não havia microfone, equalização, mixagem, nada, enfim, que permitisse limpar o som emitido pelos instrumentistas.
No fim do século XX, felizmente, é possível ouvir uma música gravada com tal limpeza que os músicos parecem tocas em nossa própria sala. E quando se trata de instrumentistas maravilhosos como os que aqui estão, melhor para todos nós. Os solos estão por conta do mestre Paulo Moura, do genial bandolinista Joel Nascimento e deste carioquíssimo trombonista Zé da Velha. No acompanhamento, Jorge Simas (violão) e Márcio (cavaquinho) conhecem toda arte do choro. Qualquer chorão sabe que a alma, o coração e o segredo de êxito desse tipo de música dependem fundamentalmente do desempenho do violão e do cavaquinho. Quando ao ritmo, a escolha não poderia ser melhor. De Jorginho, o mínimo, costumo dizer, é que se trata do melhor pandeirista do mundo. Jovi e Mascal (este tem sangue azul. É neto e filho de dois dos maiores ritmistas brasileiros de todos os tempos), por sua vez, são titulares absolutos da seleção brasileira de percussionistas.
Nas rodas de choro, quando Pixinguinha gostava da execução de uma música, abria um sorriso e exclamava: “Esta merece uma bebida”. E comemorava com um bom gole de cerveja ou de uísque. Não tenho a melhor dúvida de que, ouvindo este disco, ele teria a mesma reação.



Sem título
Al Pryor

Even before Armstrong’s Hot Five and Hot Seven, Pixinguinha had formed his octet, Os Batutas (Batutas meaning the very good ones, the very smart, cool etc.). The band has grown out of a group of musicians known as Grupo do Caxangá who performed during Carnival in the old streets of Rio de Janeiro’s city Center. Pixinguinha, who had played flute in that band, wag encouraged to form a smaller group with similar repertoire and costumes as the Grupo do Caxangá by the manager of Palais Cinema. The original members, aside from Pixinguinha, were Donga on guitar, China, Pixinguinha’s brother on guitar an voice, Nélson Alves on cavaquinho, Raul Palmieri on guitar, Luís Pinto da Silva on mandolin and reco-reco, Jacó Palmieri on tambourine, and José Alves Lima on mandolin and rattle.
Because of their achievements in music, both Armstrong an Pixinguinha were conferred the status of cultural ambassadors for their respective countries. Like Pixinguinha, all of the members Os Batutas were Black man from Rio’s working class neighborhoods. In 1922 Os Batutas traveled Europe where they were the toast of the continent. Pixinguinha’s period in Paris was part of a cultural Exchange called Semana da Arte Moderna, whick helped define Brasil’s relationship to French culture, much to the consternation of some white Rio De Janeirans (Armstrong reached London in 1932 where a British critic garbled his nickname satchelmouth into “Satchmo”). After the European tour the band changed a number of times, but regrouped as an octet for an Argentinean tour with five of the original members and J. Tomás on drums, Josué de Barros on guitar, an J. Ribas on piano. While in Buenos Aires the band made ten recordings of twenty selections; among them “Urubu Malandro”, of Pixinguinha’s most famous because of his extraordinary flute improvisations. Os Batutas would continue with various personnel changes until the late twenties.
It has beem Said by many critics and commentators that Pixinguinha not only wowed audiences with his flute and saxophone technique during choro jams; he actually introduced the saxophone to Brasilian music. He performed in cabarets, cinemas and carnival balls. Prior to Pixinguinha, orchestration of popular Brasilian music was relatively unknown. Pixinguinha’s scores included saxophones, trumpets, bombardino, Piccolo, snare drums and tuba. In fact his considerable skills landed him a position as staff arranger in the 1920’s at Columbia Records. Even so Pixinguinha would continue to direct bands and orchestras such as Guarda Velha, Diabos do Céu and others. By the thirties Pixinguinha was quite well established in a blossoming Record and broadcas industry. During his life he wrote some 600 tunes, in addition to all of his other work as an arranger, band leader, and performer. On February 17th, 1973 while waiting in a church where he was to become the god father of a friend’s child, Pixinguinha collapsed and died. Legend has it that a torrential rain fell on the Banda de Ipanema parade that Pixinguinha had been planning to attend. His friends had always thought of him as a Saint. The manner in which his life ended was just the confirmation. Every year a state sponsored festival, Projeto Pixinguinha, where artists perform throughout the country, is held in celebration of his life.
Paulo Moura is the only living instrumentalist to have a festival created in his honos bearing his name, Festival Internacional Paulo Moura. He is the ideal person to direct a recreation of the music of the great Pixinguinha. One of Brasil’s most important contemporary practitioners of Choro, Moura is a superbly trained artist both as a conservatory alumnus who debuted Weber’s Concertino with the Brasilian Symphony Orchestra at the age of 19 and became the first clarinetist for the orchestra of Rio de Janeiro’s Teatro Municipal for twenty years and as a Professional artist performing popular Brasilian music in night clubs, dance halls, recording studios and concert halls. In addition to Choro, Moura has mastered several musical genres, including bossa, samba de gafieira, and jazz. He Har performed with many other internationally renowned Brasilian musicians – Ari Barroso an Sérgio Mendes’ Sexteto Bossa Rio to name two. Moura made his US debur at Carnegie Hall in 1962. Like his musical mentor Pixinguinha, Moura is renown as an arranger having worked with artists like Elis Regina, Milton Nascimento. Two of Moura’s most significant contributions to Brasilian culture have been his leadership in the revival and continuing populanrity of Choro and his role as director of the Museu da Imagem e do Som in Rio de Janeiro and as a member o both Riode Janeiro and the Nautal Cultural Committees, two governmental bodies responsible for state sposored events. The most recent acknowledgment of Paulo Mouta’s leading role in the arts is the nomenation he received for the position of president the the foundation, of the Museu da Imagem e do Som.
In the many festivals and concerts in which he performs, Moura can often be found appearing with world class Brasilian intrumentalists such as Nana Vasconcelos, Hermeto Paschoal and Egberto Gismonti. He’s algo very popular as a teacher. His studentes have included Wagner Tiso, Mauro Senise, and the students he worked with as a visiting professor with Karl Berger ar the World Music School in Woodstock New Yorl, Moura has always remained true to his Black roots. In 1988 he conducted the Brasília Symphony Orchestra playing one of his works composed especially for the percussion and orchesta, celebrating the Centennial of the Abolishment of Slavery in Brasil. Histastery of both clarinet and saxophone ate the stuff of legend. Moura’s discography includes more that twenty recordings which are among the most prized of fans of Brasilian, world and instrumental music. This recording “Pixinguinha” by Paulo Moura & Os Batura is a recreation of Pixinguinhas repertoire. The band features Joel do Nascimento on mandolin, trombonist Zé da Velha, accompaniment by guitarist Jorge Sima and Marcio on ukulele, the worlds famous tambourine player Jorginho and rounding out the rhythm section on percussion, Marçal an Jovi. With this octet Paulo Moura demonstrates the energy, intricacy, beauty and timelessness of the music of Choro and Pixinguinha. Paulo Moura will one day be remembered for his own genius as an arranger, composer and performer. Thankfulle, much with us as this recording demonstrates.




Paulo Moura & Os Batutas/Pixinguinha
Al Pryor

Popular music arising from the cultures of North and South America hás found much of it’s expression in the vocal context; but two wonderful exeptions to this axiom are the development of Jazz in America and Choro in Brasil. Choro and Jazz traditions share a remarkable number of elements. Not only are both forms essentially instrumental in character, but they both use improvisation as an important feature of the music and the genesis of the Argentinean tango. This of course, is not happenstance but points to the roots of African culture emanating from the ports of call of those nations, all of whom were involved in the slave trade. Both genres saw their greatest development in small groups using specific rhythmic figures together with the improvising soloist. Althought Choro is possibly several decades oldes than Jazz; both forms were popularized in part by great soloists whose careers took off around the turn of the century.
In America that seminal sound was provided by the genius of Louis Armstrong (1900 – 1971), whose recordings of the Hot Fives and the Hot Sevens from 1925 to 1928 were immediately recognizes by musicians and knowledgeable aficionados as having created, extended and codified elements that would become part of the language of this new “hot” music called Jazz. Armstrong’s creation of completely new melodies rather than paraphrasing the theme, his use of individual solo statemente as a part of a larger unified melodic concept, his exploitation of drama to display the most personal and intimate emotions and sense of individuality, and his powerful sense of swing secured his place among those artists Who are not only gread technicians but whose innovations forever change the way music is made and heard.

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